Inimigos da Cruz de Cristo



... muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas ... (Filipenses 3.18-21).

O apóstolo Paulo alerta veementemente para o fato de que tem muita gente não se identificando com a mensagem da cruz, desinteressados do escandaloso amor de Jesus, não desejando estar crucificados com Cristo, nem morrer para o mundo. Quando estava preso, alegrou-se e cantou na cadeia. Mas aqui ele repete seu alerta em meio a lágrimas e choro. Afinal, o que precisamos saber a respeito sobre estes a quem chamou de inimigos da cruz?

Os inimigos da cruz se infiltram na igreja (muitos andam entre vós). 


Temos a tendência de pensar que os inimigos estão lá fora. Mentira! Lá fora estão os que precisam conhecer a cruz. Aqui dentro infiltram-se inimigos. Tem cara de ovelha, mas são lobos roubadores e vorazes disfarçados de ovelhas (Mt 7.15; At 20.29). Não são estrangeiros. É gente de dentro, que sabe a linguagem, mas não tem o coração, tem o trejeito, mas não a rendição, parecem, mas não são. Mas não é só isso. Todos nós corremos o risco de, mesmo crentes verdadeiros, estarmos inimigos. Mesmo declarando Jesus verdadeiramente como o "Cristo" (ungido, Messias) podemos reprovar a cruz no momento seguinte, como Pedro (Mc 8.29-34). Pode ser o outro, mas posso estar eu mesmo.

Os inimigos da cruz querem desviar a salvação (o destino deles é a perdição). 


"Destino", do grego telos, significa propósito, objetivo, encargo. O objetivo deles é que as pessoas não conheçam a mensagem da salvação. Como fazem isso? Desviando da verdade. Colocam a salvação como fruto do esforço humano ao invés de dádiva divina, obtido do cumprimento da lei, ao invés do Cristo crucificado. A Gênese disso pode ser encontrada na história de Caim e Abel (Gn 4). Quando Caim nasce, Eva declara: adquiri um varão com o auxílio do Senhor (v 1). É a raiz do humanismo onde a ação do ser humano está em primeiro plano e Deus aparece como coadjuvante. Quando Abel nasce, o texto simplesmente diz: depois, deu à luz a Abel, seu irmão (v 2). Abel significa "sopro", "fôlego", simbolizando dádiva divina. A história dos irmãos segue e culmina quando trazem oferta ao Senhor. Caim traz o fruto de seu trabalho e esforço na terra. Deus não aceita. Abel traz as primícias do seu rebanho, apontando para o Cordeiro de Deus. Deus se agrada. Caim fica irado e mata Abel. O humanismo quer matar o cristianismo. É inimigo. Enquanto objetivo do inimigo é a perdição de muitos, o objetivo do amigo é a salvação de todos.

Os inimigos da cruz cultuam-se a si mesmos (o deus deles é o ventre). 


Sua fala gira em torno de si mesmos, ora como vítimas, ora como heróis, são o alvo final. Falam de suas obras, realizações e conquistas. Utilizam-se do ambiente da família da fé para se apropriarem da atenção em torno de si próprios. Com palavras enganosas, mas cultuam suas próprias vaidades, seu ventre, seu ser. Tornam-se o centro da atenção, da comoção. Bajulam a si mesmos. Têm fome de fama, apetite pelas oferendas do povo para si mesmos. São movidos pelas paixões e movem outros para as mesmas paixões. Não aparecem com chifre, rabo e tridente nas mãos, mas estão trajados com aparência de engano e palavras segundo as próprias cobiças que fazem coceira nos ouvidos (2 Tm 4.3).

Os inimigos da cruz expõem o que deveria ser coberto (a glória deles está na sua infâmia)


Orgulho do que deveriam se envergonhar. Orgulham-se no que não tem glória em si mesmo. Alimentam-se do que envergonha, principalmente, da vergonha alheia. Como abutres, alimentam-se da carniça, julgando tudo e todos sumariamente. Sem piedade, espalham a infâmia até através da oração. A cruz veio cobrir (não encobrir, ocultar) o pecado. A cruz veio perdoar, redimir, pagar. Por isso, como disse Paulo, longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo (Gl 6.14). Nossa glória está na salvação, e não na condenação, na libertação, e não em jogar pedras, na restauração e não na queda. O amor de Cristo na cruz cobre as transgressões, a multidão dos pecados (Pv 10.12; 1 Pe 4.8).

Os inimigos da cruz estão restritos à vida terrena (só se preocupam com as coisas terrenas)


Pensam somente nas coisas que são deste mundo. Amam este mundo e tudo o que nele há (1 Jo 2.15). Amam o dinheiro (1 Tm 6.10), ou no extremo da avareza ou no outro extremo consumista. Também buscam obcecadamente poder e influência. Lembre-se, mesmo os discípulos estavam obcecados por isso. Jesus anunciou sua morte (Mc 8.31) e em seguida é repreendido por Pedro (Mc 8.32). Jesus anuncia pela segunda vez sua morte (Mc 9.31) e pega seus discípulos discutindo quem era o maior (Mc 9.34). Outra vez anuncia sua morte (Mc 10.33-34) e em seguida Tiago e João pedem que se assentem à direita e esquerda (Mc 10.37). Inimigos da cruz fazem isso. Em meio ao brilho do amor de Cristo na cruz, querem se sobressair, se aproveitar, tirar vantagem. Mesmo quando se fala do céu, estão dominados pelos pensamentos da terra. Perdem a perspectiva do eterno, do que tem maior valor, do que tem real valor. Sua agenda é outra, seu interesse é mundano. Acumulam para si riquezas que a traça consome e não acumulam riquezas incorruptíveis. Mesmo ao lado de Jesus, têm outros interesses.

A palavra de alerta serve para também enfatizar o outro lado. Fomos chamados para ser amigos da cruz, amigos da obra de Cristo, amigos do próprio Cristo. Os amigos imitam uns aos outros naquilo que imitam a Cristo. Os amigos vivem a vida aqui com a perspectiva do céu, vivendo os valores da pátria celestial. Vamos viver como amigos de Cristo!

Fonte:
Instituto Jetro - Rodolfo Garcia Montosa

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